sábado, 29 de novembro de 2008
Homem de bem
João Victor Moura
domingo, 23 de novembro de 2008
Baco
terça-feira, 18 de novembro de 2008
drunken head
Oras, você bebe copos e mais copos de cerveja, às vezes coloca uns pingos sutis de alcatrão. Diverte-se vendo as pessoas passarem na calçada. Porém, numa dessas funções cotidianas, eis que surge o monstro das madrugadas. Inoportuno.
Sentada numa privada, imunda e barata, recém descarregada, com um som turbulento das águas inundando a repartição “privada”. O xixi/mijo/pipi, ou para os mais civilizados, urina, vai saindo, inicialmente tímido e com o seu barulhinho tão reprimido naquele instante. Mas, acontece. O banheiro se divide. Da tampa do vaso para trás predomina o marrom daquele som avassalador e, dali à frente, tudo está amarelo e delicado como o barulhinho do xixi/mijo/pipi, ou, para os mais civilizados, urina.
Não faz sentido que isso seja dito pra alguém. Mas, imagine. Minha mente estava mais desconexa que nunca e ver uma flor ser simplesmente uma flor seria a missão impossível do dia. Foi frenético, querido. Quando isso acontece com você é terrivelmente angustiante. Pense em um ser segurando sua cabeça para ver se ela sossega, e nada.
Acendi um cigarro ali mesmo, esperei os tormentos dormirem, mas não dormiram. Sabe, quando eu acendi o isqueiro, daquele som mínimo fez-se um estrondo e tudo ficou vermelho fogo. Agora estou ruiva, vestindo roupas diabólicas e com os olhos em chamas. Não sei se foi o isqueiro ou a lembrança... Sabe, na verdade, eu ainda te espero para acender meu cigarro, beber comigo e adormecer os seres esquizofrênicos. Acho que gosto de você, querido.
Seria eu, uma grande irrelevância?)
domingo, 16 de novembro de 2008
Chupa que é de uva
A tua vulva. É de uva? Roxa. Tá roxa ou é?
-Tá.
-Doeu?
-Sim. Foi com roupa e tudo. Ele só queria ver meu cameltoe, mas na hora que mostrei ele foi com tudo.
-Acho teu monte de vênus o mais bonito que já vi.
-Tenho partes melhores.
-É verdade que tu fizeste clitoridectomia?
-Muda alguma coisa?
-Não.
-Tu foste preso por qual motivo?
-Parafilia potencialmente perigosa, danosa para o sujeito ou para outros, trazendo prejuízos para a saúde ou segurança, ou podendo impedir o funcionamento sexual normal, sendo classificadas como distorções da preferência sexual. Meu caso.
-Gosto de bondage.
-Eu também. Pena que tu não tem um braço.
-Tu curte apotemnofilia. Crê?
-Pode crê.
-Te amo magrão.
-Te amo magrona.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Das surpresas previsíveis
"Mudança chegou aos EUA"
"Milagre político da vitória de Obama cria grandes expectativas."
"Vitória de Obama é um orgulho para os negros"
"Vitória de Obama pode inverter impopularidade do país no exterior."
"Escolheram mudança e otimismo"
"Mas nós vamos ficar ricos/vamos faturar um milhão/Quando vendermos todas as almas/dos nossos índios num leilão!"
Ananda
terça-feira, 11 de novembro de 2008
o direito de não amar.
pensar sobre renúncia é sempre complicado. quando pensamos que é preciso renunciar a certas coisas, não percebemos que estamos automaticamente pensando em confiar em nós mesmos. quando criamos vergonha na cara para partir, levamos na mochila apenas o que mais precisamos. e é para isso que eu queria chamar atenção: para o que está dentro da bolsa, para o que vai e não para o que fica. pode ser que a gente não perceba, mas terão horas na vida em que vai ser inexoravelmente necessário abandonar certas coisas (até mesmo quando a gente esquece). renunciar é ter paz, é ser corajoso como insistir. renunciar é assinar um acordo consigo mesmo, é se pré-dispor à caminhar mais longe. renunciar é liberdade. direito de não amar é esquecer o rancor e deixar que tudo seja feliz - com ou sem você.
domingo, 9 de novembro de 2008
Me explica por favor senhor inventor do amor, ou senhora, não sei seu gênero. Me faça entender por que o meu coração é burro. Me explique como a quem explica para uma criança por que eu acho que insistir no erro não é burrice, por que eu sempre acho que só eu consigo ver o que ninguém consegue.
Por que faz de conta que passou e qualquer faísca reacende o que parecia morto? Por que a sensação de que nunca vai passar? Eu só queria achar alguém que um dia pudesse me dizer que quer ficar SÓ comigo, que só precisa de mim.
Por que quem inventou o amor não inventou o antídoto pra isso tudo? Vem e me diz o que aconteceu e porque tem que ser assim. Tenta me explicar porque nunca pode ser como a gente quer.
Eu queria poder escrever esse roteiro, sem qualquer intervenção do destino, essa criatura medonha, que nos prega peças a toda hora.
Eu não sei se eu consigo mais...
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
"Alô, alô Tereziiiinhaa!"
Chegar corneteando à la Chacrinha.
Que jeitinho deveras alegre de aparecer(FINALMENTE) em uma tarde ensolarada de sexta-feira!
É, primeira vez que dou às caras por aqui.
Fiquei meio perdida hoje sobre o que escrever e, confesso, ainda não estava muito certa sobre o que iria postar. Mas, pensando bem, a coisa que mais queria dizer está contida na última postagem do meu blog. Acredito que será familiar à todos o exemplo do texto, então, aproveitem a super técnica milenar do Ctrl + c e Ctrl + v:
"As aparências enganam, amigo.
É, já diriam minha bisavó, minha avó, minha mãe, eu e talvez irão dizer meus filhos, netos e bisnetos esta célebre máxima. Verdade seja dita, aparências enganam e muito. Ou pelo menos enganam nossos momentos de fraqueza. O que me inspirou a refletir sobre isso, é o livro Tia Julia e o Escrevinhador, do peruano Mario Vargas Llosa. Se me permitem a ousadia, faço um breve resumo da cena:
Dois trabalhadores de uma empresa conversam e chega um estranho que lhes pede o material de trabalho. O ar desse estranho parece prepotente aos outros dois e, como estes nunca o tinham visto, não gostaram da abordagem. No entanto, o chefe chega e apresenta o desconhecido como novo colega de firma. Esse integrante novo, que também já não estava tão confortável com a situação, velozmente se apresenta: "- Pedro Camacho, um amigo." E quando ia retirar-se, ainda diz: "- Não guardo rancor dos senhores, estou acostumado com a incompreensão das pessoas. Até sempre, senhores!"
Creio que o Pedro é um cara esperto. Sensacional, brilhante, I would say!
Quando eu li, em especial essa última fala, algo que às vezes em meus pensamentos parece tão confuso de conceituar, iluminou-se de repente.
Achei muito interessante a maneira como o autor propôs essa atitude tão verdadeiramente e tão facilmente em uma cena que ocupa, quando muito, duas páginas e que, muitas vezes, ocupa muitos anos de nosso compreendimento.
Certamente a experiência de vida celebra essas noções de valores.
Nunca é cedo demais para aprendê-las.
E também nunca é tarde de mais."
E era isso por hoje.
:)
Por Mariana Cervi Soares
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Contraste
O fato que chama a atenção não está nas linhas físicas, e sim no que se adentra o corpo. Ele ,certa vez, disse que a escolha pelo estilo de vida adotado veio após a morte da mulher. O "como ela morreu" não se teve coragem de indagar. Quem sabe um acidente, uma doença. De velhice, não. Pois ele é novo: trinta e poucos. Desde então, resolvera largar o emprego fixo, o qual lhe impunha rigidez de horário e compromisso regrado. Não que houvesse largado algo muito bom - não ganhava muito, não -, mas tinha uma estabilidade, ainda que mesquinha.
Hoje vive de bicos. É pintor, marceneiro, carpinteiro. É daqueles que fazem serviços gerais. Quebra-galhos, Severino. Mas, sobretudo, é técnico em cigarros. Sabe tudo sobre fumo, tabaco, sobre efeitos e benefícios. Malefícios: a estes não desconhece, mas simplesmente ignora-os. É só conversar com ele sobre o assunto que se notará um brilho nos olhos. E gesticula e se anseia tentando traduzir o bem que uma tragada lhe faz. Daí passa a falar de música, da vida, da liberdade alcançada.
Diz que quase não come – a mulher que lhe preparava a comida. Não é estudante, mas passa a Miojo. Seu meio de transporte é uma bicicleta rústica. Dorme o quanto lhe convém, pois os horários de trabalho não são fixos, e é isto que lhe serve de ânimo. Recebe pouco pelos serviços. Mora em quarto alugado. Não tem filhos nem parentes, apenas amigos de momento com os quais troca meia dúzia de palavras – uma dúzia quando sente que algum indivíduo possa o entender. Vive mendigando moedas para os conhecidos dos locais que freqüenta, e disto não tem vergonha. Até ri quando algum lhe diz: “não dou não, sei que vais direto comprar um desses charutinhos de câncer”.
Se é feliz? Acho que sim. Ele é um contraste, e tiros de condenação são lançados seguidamente a ele. É corajoso, muito. Coragem por furar as regras, por abdicar de seguranças. Ou, por isso mesmo, é medroso, arredio e fraco? Depende do ângulo. Ele diz que tudo é uma opção de vida. Abriu mão de conforto, de estabilidade, de família. Ainda assim, talvez não se sinta solitário... Ou talvez se sinta e esta tenha sido a diretriz principal da sua maneira de ser.
Liana de V. N. Coll
OBS.: Baseado em fatos reais de um pelotense muito curioso.